Lembranças - cap 1

Parte 1

Ainda lembro daquele dia, há oito anos, como se fosse hoje. Tudo tão claro, tão exato. É engraçado como a nossa memória nos prega peças. Quando queremos lembrar, esquecemos e quande queremos esquecer...

Já era tarde da noite, no aniverssário dele. Nós voltavamos de um jantar. Estávamos felizes, papai ganhara uma viagem para o Hawaii, meu tio sempre foi generoso.
Minha mãe não cabia em si de tanta felicidade, ela amava  meu pai. Se apaixonou por ele na primeira vez que se encontraram, e o amor deles só aumentava com o tempo. E agora essa felicidade ia chegar ao Hawaii!

Eu era uma criança feliz, sem dúvidas. Tive exelente educação, o amor e carinho de meus pais e muitos amigos na escola em que estudava, aliás uma das melhores da cidade.

Mas tudo mudou naquele dia.
Depois que o acidente ocorreu eu não me lembrei de muita coisa. Na época eu só lembrava da dor,   tinha muito sangue mas eu não havia me cortado minha cabeça estava tão confusa.
Eu tentava me lembrar mas não conseguia, então eu continuei tentando. Se eu soubesse o que lembraria eu teria parado.

Um dia tudo voltou.


Parte 2

Eu estava no banco de trás. Havia uma garota, correndo para atravessar a rua, já era tarde... o que ela estava fazendo sozinha, correndo por aí? Bom, não importa. Ela não viu o carro, foi por pouco, papai conseguiu desviar no ultimo instante. Mas nós derrapamos, eu me lembro do barulho das rodas raspando no asfalto, do modo como mamãe olhou pro papai, apavorada. De como ele girava o volante tentando controlar o carro.Eu me lembro do medo que senti, tanto que minha barriga doeu e eu fiquei sem ar.
Então o pior aconteceu, batemos em um poste com tanta força que as rodas de trás levantaram do chão por quase um metro, toda parte do motor ficou esmagada. Todos fomos jogados pra frente. Eu fiquei bem, mas mamãe bateu a cabeça e papai desmaiou.

Quando o carro finalmente parou, pude perceber que mamãe estava desesperada, chorando de dor. Ela conseguiu manter o controle por algum milagre, pegou o celular no paletó de papai e ligou para emergência. Depois voltou a chorar desconsolada. Eu dizia: Mamãe não chore. Não adiantou, ela continuava a chorar, nem prestava atenção em mim, ou talvez eu estivesse tão em choque que minha voz não saiu. A situação me amedrontava tanto que comecei a chorar também.

Então papai acordou, ele estava inclinado em direção ao banco de mamãe e eu pude ver. Havia sangue em seus lábios quando ele falou:

"Garotas acalmem-se, tudo vai ficar bem."

Seu estado era deplorável, vários cortes e hematomas. Eu  soltei o cinto para poder chegar mais perto e vi com horror que um grande pedaço do pára-brisa havia entrado por sua barriga. Tinha muito sangue e papai estava ficando mais pálido a cada segundo. Minhas lágrimas aumentaram e um topor se apoderou da minha mente.

"Calma florzinha, calma meu amor. Papai sempre vai cuidar de você."

Ele esticou o mindinho direito pra mim, eu imediatamente enrosquei o meu com o dele e repetimos o nosso lema.

"Caindo. Levantando. Vencendo."

Ele sorriu pra minha mãe, sua mão escorregou da minha, mamãe gritou e tentou fazê-lo reagir então eu desmaiei... e acordei no hospital, treze horas depois.

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